Entre o Mito e a Realidade
A lenda dos pishtacos — também conhecidos como ñaqaq em quíchua e kharisiri em aimará — é uma das histórias mais antigas, temidas e fascinantes dos Andes peruanos e bolivianos. Esse mito mistura história, cultura, religião, tensões sociais e eventos reais que, durante séculos, moldaram a identidade de comunidades inteiras. Hoje, além de seu significado simbólico, tornou-se um atrativo para o turismo cultural e místico.
Origem Histórica da Lenda do Pishtaco
O mito do pishtaco surgiu na era colonial, no século XVI, durante a conquista espanhola. Cronistas indígenas e espanhóis registraram histórias sobre figuras estranhas — geralmente forasteiros de pele clara — que supostamente extraíam gordura humana para propósitos misteriosos.
- Acreditava-se que os espanhóis usavam essa gordura para:
- Curar doenças e fazer pomadas medicinais.
- Untar sinos de igreja para que soassem melhor.
- Lubrificar armas e máquinas.
- Fazer pactos com entidades sobrenaturais para obter poder e riqueza.
Com o tempo, a figura do pishtaco tornou-se um símbolo de medo, desigualdade e exploração. Representava a opressão colonial, a violência e a desapropriação cultural, mas também o medo de perder a identidade para estranhos.
Ainda hoje, o mito sobrevive, adaptando-se a contextos modernos: hoje, é associado a supostas máfias, médicos corruptos, traficantes de órgãos e até mesmo a casos de grande repercussão que alimentam o imaginário coletivo.
Variantes Regionais do Mito
O mito do pishtaco foi adaptado a diferentes áreas dos Andes:
- Pishtaco (centro e norte do Peru): Encontrado em Huancavelica, Ayacucho, Ancash e Huánuco.
- Ñaqaq (sul dos Andes): Nome quíchua que significa “esfolador”, comum em Cusco, Apurímac e Puno.
- Kharisiri ou lik’ichiri (planalto aimará): Muito presente em Puno e no oeste da Bolívia, especialmente em comunidades próximas ao Lago Titicaca.
Cada versão mantém a essência do mito, mas incorpora elementos locais, desde rituais e crenças até punições comunitárias para proteção contra essas entidades.
O Caso do “Pishtaco Moderno” (2009)
Em 2009, a polícia peruana anunciou a captura de uma suposta gangue criminosa em Huánuco que estava assassinando pessoas para vender sua gordura. O caso gerou pânico nacional e foi noticiado internacionalmente. No entanto, semanas depois, foi revelado que tudo não passava de uma farsa midiática: a história foi inventada por algumas autoridades para obter reconhecimento.
Este episódio confirmou duas coisas:
O poder do mito: o medo do pishtaco permanece tão vivo que um rumor pode desencadear histeria em massa.
O peso cultural da história: as comunidades andinas preservam essa lenda como parte de sua identidade, e qualquer notícia relacionada a ela desperta memórias profundas.
Passeio Temático: “Nas Pegadas do Pishtaco”
Se você é apaixonado por turismo cultural, pode explorar as regiões onde o mito ainda vive. Esta rota o levará por aldeias andinas, histórias orais, museus e paisagens ricas em história.
Dia 1 – Ayacucho Histórico e Cultural
- Passeio pela cidade de Huamanga: Plaza Mayor, templos coloniais e oficinas de artesanato.
- Museu da Memória: para entender as histórias andinas e o contexto social.
- Noite das Lendas: contadores de histórias locais contam histórias do pishtaco e outras tradições.
- Preço médio: S/ 60 – S/ 120 por pessoa.
2 – Quinoa e Pampa de Ayacucho
- Obelisco histórico e campos de batalha.
- Oficinas de retábulos de Ayacucho.
- Caminhada curta por ravinas onde se diz que ocorrem avistamentos de ñaqaq.
- Preço médio: S/ 80 – S/ 150 por pessoa.
Dia 3 – Huanta e Cangallo
- Caminhe por terraços e mirantes naturais.
- Deguste puka picante e tripa de Ayacucho em mercados tradicionais.
- Preço médio: S/ 90 – S/ 160 por pessoa.
Extensão opcional: Huancavelica (2 dias)
- Centro histórico e pontes coloniais.
- Complexo mineiro de Santa Bárbara (somente ao ar livre).
- Termas: relaxamento ideal em altitude.
- Preço médio do pacote: S/ 250 – S/ 400 por pessoa.
Extensão opcional: Puno e Lago Titicaca (2 a 3 dias)
- Passeios culturais com narração sobre os kharisiri.
- Oficinas têxteis em Taquile e Amantaní.
- Experiência de turismo experiencial em ilhas flutuantes.
- Preço médio do pacote: S/ 350 – S/ 600 por pessoa.
Como chegar
- Ayacucho (HUQ): Voos diretos de Lima (1 hora) ou ônibus interprovincial (9 a 10 horas).
- Huancavelica: Acesso por estrada a partir de Ayacucho (6 horas) ou Huancayo (5 horas).
- Puno: Voos para Juliaca (1 hora e 45 minutos) + transporte terrestre (1 hora) ou ônibus a partir de Lima (20h às 22h).
Clima e melhor época para visitar
- Maio a setembro: Estação seca, dias ensolarados (18 a 22°C), noites frescas.
- Outubro a abril: Estação chuvosa. Recomenda-se o uso de roupas impermeáveis e calçados antiderrapantes.
- Altitude média:
– Ayacucho: 2.700 m
– Huancavelica: 3.600 m
– Puno: 3.900 m
Preços estimados para 2025
- City Tour em Ayacucho: S/ 40 – S/ 70
- Quinua-Huanta – Dia Inteiro: S/ 80 – S/ 150
- Noite das Lendas: S/ 40 – S/ 90
- Museus Locais: S/ 5 – S/ 15
- Transporte Lima-Ayacucho: S/ 90 – S/ 160
- Pacote de 2 dias em Huancavelica: S/ 250 – S/ 400
- Pacote Puno 3-D: S/ 350 – S/ 600
Hotéis Recomendados
Ayacucho
- Hotel Santa Rosa – 3 estrelas | S/ 160 – S/ 280 | Centro Histórico.
- DM Hoteles Ayacucho – 4 estrelas | S/ 280 – S/ 420 | Hotel boutique, ideal para casais.
- Acomodações para famílias – S/ 60 – S/ 120 | Próximo a oficinas de artesanato.
Huancavelica
- Hotel Presidente – S/ 130 – S/ 220 | Com aquecimento e vista para a montanha.
- Eco-lodges perto de lagoas – S/ 160 – S/ 300 | Experiência na natureza.
Puno
- GHL Hotel Lago Titicaca – 4 estrelas | S/ 360 – S/ 700 | À beira do lago.
- Intiqa Hotel – 3 estrelas | S/ 180 – S/ 320 | Centro Histórico.
- Acomodações econômicas – S/ 70 – S/ 140 | Para mochileiros.
Cozinha tradicional
- Ayacucho: puka picante, mondongo, chaplas, qapchi e chicha de jora.
- Huancavelica: pachamanca de três carnes, truta fresca, patasca.
- Puno: sopa de quinoa, presidente, cancacho juliaqueño e truta Titicaca.
Dicas Práticas para Viajantes
- Use roupas quentes e calçados confortáveis.
- Mantenha-se hidratado, especialmente em altitudes elevadas.
- Contrate guias locais para entender a história e as histórias.
- Respeite a cosmovisão andina: não banalize o mito do pishtaco.
- Compre artesanato diretamente dos produtores para apoiar a economia local.

